#tavapensandoaqui que enfim chegaram
os sessenta. Meus sessenta anos chegaram hoje. Ganhei lugar nos assentos preferenciais,
entradas de graça em alguns eventos, vaga especial ao lado das entradas de Shoppings
Centers e Supermercados, filas especiais. Que merda. Junto com isso chega a
também chamada sabedoria. Sabedoria de não dar um soco na cara de um monte de
sujeitos folgados que existem aqui nessa terra de ninguém na qual se transformou
nosso país. A sabedoria impede de dar um tremendo murro na cara do sujeito por
uma simples razão: hoje eles são maiores que a gente. Se der uma porrada num
sujeito folgado desses, meu braço vai quebrar e se não quebrar com a cacetada
que darei nele ele vai se voltar pra mim e me quebrar o braço e outra partes
mais. E nós somos maiores que nossos pais, cuja idade que alcancei agora,
muitos deles não chegaram com a saúde que tenho. Alguns nem chegaram vivos até
aqui. Nessa idade que tenho nesse quatorze de setembro de dois mil e dezessete
tenho muita história para contar. Vivi no tempo que a televisão produzia
programas simples em preto e branco e que todas as pessoas acompanhavam. Programas
de auditório e seriados estrangeiros além de tantos outros dominavam os horários
nobres das três ou quatro emissoras de televisão que pegavam nas nossas casas
com ou sem palha de aço na antena. Felicidade de jogar bola na rua com chuva ou
sol, ralar o joelho no asfalto e passar mertiolate que ardia naquela época, ou
quebrar a unha do dedão do pé e ir com ele para a escola, enfaixado com gaze
vermelha do mercúrio cromo. Os pés dentro de um chinelo que não deixavam cheiro
e não soltavam as tiras. A violeta genciana era utilizada para eliminar as
herpes ou o bicho de pé que era adquirido ao andar descalço nas ruas de terra
ou nas praias. A água era tomada da torneira depois de uma brincadeira de cabra-cega,
pega-pega, amarelinha, pula-corda ou queimada. Os brinquedos soltavam as
pequenas peças, eram verdadeiras armadilhas e sempre escapávamos delas. As balas
não tinham furinho no meio, as canetas estouravam dentro dos bolsos dos
adultos. Os jovens começavam a fumar com menos de quinze anos, fumavam dentro
de casa, dentro dos restaurantes e nos escritórios. Isqueiros ou cinzeiros com
belos desenhos ou belas imagens eram presentes ideais para se presentear como
lembrança para um monte de gente depois de uma viagem para algum lugar
distante. Águas de Lindóia, Serra Negra, Poços de Calda eram destinos distantes
naquela época, pelo menos para mim que sou de Santos. Automóveis sem cinto de
segurança e com toca-fitas de gaveta passaram pela minha vida. Belos tempos,
belos dias. Agora sessenta. E a vida começa aos sessenta. Vamos em frente. Terceira
idade, melhor idade, seja lá o que se chama hoje, chegou para ficar na minha
vida. E passar. Como passaram os quinze, vinte, trinta, quarenta e cinquenta
anos. Deus me guie. Tava pensando aqui...
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