#tavapensandoaqui
que Amélia decidiu trabalhar.
Com diploma do ensino superior na mão, falando três línguas
estrangeiras, Amélia foi até o local onde estavam solicitando “Vagas para
auxiliar de entregas no exterior: desejável falar três línguas, ter boa aparência,
disposição, disponibilidade para trabalhar finais de semana e diploma do ensino
superior. A empresa oferece transporte e refeições”.
O local da seleção estava
repleto de gente e ela seguiu a fila que fazia um “U” até se posicionar no
terceiro quarteirão. Assustou-se com a rapidez com que a fila se movimentava e
em poucos minutos estava na rua onde podia ver a entrada da casa onde se fazia
a seleção. Pessoas entravam com a mesma velocidade que saíam e ela logo chegou
ao portão onde respondeu às perguntas do segurança em três línguas diferentes. Quem
não respondia era descartado na porta. Admitida no recinto, ela dedicou alguns
minutos ao preenchimento da ficha de número 287 onde algumas perguntas tinham
que ser respondidas nas três línguas que a pessoa dominava. Ela era de classe
média, sua fluência nas línguas Italiana, Inglês e Frances vinham da família
Italiana onde ela nasceu e da adolescência no Canadá onde as línguas Francesas
e Inglesas são obrigatórias para se virar por lá.
Terminada a ficha aguardou
sua vez e fez a entrevista. O cargo era de “Auxiliar de entregas no exterior” e
ela ficou feliz quando disseram que ela estava apta para a vaga. Dia seguinte
se apresentou trajando roupa confortável, como foi recomendada pela empresa, pois
ela seria treinada para exercer a função. A empresa fornecia transporte e
refeição e ao se apresentar para o trabalho foi levada junto com outras pessoas
para o transporte que a levaria para o local do trabalho.
O motorista levou-a
até o pátio onde lhe aguardava uma Besta, aquela Van para nove passageiros.
Recebeu uma mochila e um avental verde e azul. Sentou-se junto aos demais e
abriu a mochila que dentro tinha uma boa quantidade de panfletos do ultimo
lançamento imobiliário de um bairro nobre. No fundo da mochila um pequeno
pacote embrulhado em papel alumínio trazia o lanche que ela poderia comer em
quinze minutos do intervalo, conforme lhe avisaram. Ela arguiu ao chefe: “Vamos
entregar panfletos nos cruzamentos da cidade?” ao que o chefe respondeu: “Sim,
um trabalho bem puxado, faça chuva ou faça sol, fins de semana, estaremos
sempre alertas!”. Ela retrucou: “Mas para que falar três línguas e tudo o mais?”.
O chefe respondeu: “Porque somos uma cidade turística e temos que estar
preparados para atender pessoas do mundo todo. Vai que eles tenham dúvidas e
perguntem alguma coisa para nós?”.
E assim Amélia começou a trabalhar. Pois é.
As
vagas disponíveis atualmente para executar funções básicas, exigem que você
tenha formação “genérica e específica” em diversas ferramentas, diploma
superior ou superior ao superior, conheça vários idiomas, tenha horário
flexível, condução própria, garra, energia, boa comunicação, boa aparência, disponibilidade
para viagens, trabalho em equipe, espírito empreendedor e muito mais. Velhos,
negros, gays, gordos ou feios serão descartados sem que isso seja feito de
forma clara, pois o patrulhamento do politicamente correto estará atuante. Quando
você vê a remuneração oferecida de até três salários mínimos, percebe que estão
lhe fazendo de besta. Não tem como escapar. Certo estava Ariano Suassuna quando
disse: “É tanta qualidade que exigem para dar emprego que não conheço um patrão
com condições de ser empregado”. Tava pensando aqui...
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