quinta-feira, 29 de junho de 2017

Tavapensandoaqui no homem do século passado

Tavapensandoaqui no homem do século passado. Aquele que atendia ao telefone com fio, assistia TV em preto e branco e ouvia radio em ondas curtas. Alguns mais abastados tinham vitrolas onde tocavam os LPs de 78 rotações. Se você procurar bem ainda deve encontrar alguns exemplares desses homens primitivos em perfeito estado de funcionamento andando pelas ruas, com suas calças largas gastas pelo tempo e arrastando pelo chão, sapato de couro gasto, mal engraxado, reparado pelas meias-solas e com suas camisas sociais puídas, gastas pelo tempo que são testemunhas de muita experiência de vida. Pode vê-los indo em direção a uma praça para encontrar outros seres primitivos e juntos darem comida aos pombos ou jogarem uma partidinha de damas ou um carteado. Esse homem primitivo caminhava uns bons quilômetros para ir de casa ao trabalho, usava roupas cinzentas, sem cores (será que as roupas não tinham cores ou eu me lembro disso porque vejo as fotos antigas em preto e branco?). Esse homem do passado vivia em casas com bom espaço de quintal onde criava animais e onde ficava a bancada de ferramentas que servia para fazer os reparos do telhado, das calhas, dos sofás que perdiam uma ou duas pernas e eram amparados por listas telefônicas, ou ainda usar as lixas para desenferrujar as cadeiras e mesas da cozinha que enferrujavam depois da primeira semana após terem chegado das lojas Arapuã. O homem antigo esperava pelo aquecimento das válvulas do aparelho de televisão, esperava que a imagem fosse se formando e aumentando até atingir as bordas das velhas Telefunken. Subia em telhados para arrumar a antena da televisão. Aos gritos das mulheres dizendo “mais prá lá ou mais pra cá” o homem primitivo “trepava” nos telhados para arrumar a antena espinha de peixe e depois sentava ao sofá para ver, babando (mais de sono do que de desejo, diga-se de passagem) as belas Chacretes nas tardes de sábado. Agora estamos numa nova era. Já passamos por diversas delas, tivemos o homem Paliolítico, o Mesolítico e o Neolítico. O homem de hoje não espera mais nem um minuto por nada. Quer tudo imediatamente. É informação imediata, resposta imediata, lucro imediato, decisões imediatas. O que demorava horas para ser feito, agora demora minutos e o homem de hoje não tem paciência de esperar. A comida fica pronta em minutos no microondas. A água fervente faz o macarrão no copo ficar pronto imediatamente. A comida pedida pelo aplicativo tem que chegar em minutos, quente e fresquinha. Ao sentar-se à mesa o garçom deve estar ao seu lado atendendo ao pedido. E a comida tem que vir no minuto seguinte. A televisão é ligada e a imagem aparece instantaneamente. O clique no site da Internet tem que responder em segundos. Tudo agora é imediato. Com isso, a pressa de quem pede contamina a calma de quem é cobrado. A população fica ansiosa, em estado de ansiedade. Olhos arregalados, esbugalhados pelo acompanhamento do videogame de ultima geração. A população atual está ansiosa por novos recursos nos celulares, novas formas de assistir filmes em 3D, novas maneiras de aprender a falar línguas em semanas. A ansiedade cresce, remédios são criados para combater as doenças na ânsia de buscar saúde imediata e rapidamente. Fazer exercícios deixou de ser suficiente, o auxílio de produtos energéticos acelera o crescimento dos músculos visíveis e diminui os outros que estão escondidos dentro da cueca. Estamos entrando agora na era do homem Ansiolítico. Não é não? Tava pensando aqui...

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